Fluxos de importação e exportação incompatíveis geram dificuldades na exportação de carga frigorificada
Os navios frigorificados estão ficando cada vez mais raros, o que faz com que os contêineres do tipo reefers sejam praticamente a única opção para exportadores de frutas, frangos, carne, etc. Isso não geraria problemas, se os fluxos de importação e exportação de cargas que precisam de refrigeração não fossem incompatíveis.
Se por um lado, o Brasil exporta grande quantidade de frutas e frangos, por outro, o país não importa cargas que precisem viajar em baixas temperaturas em quantidade compatível com as exportações. Por causa disso, o número de contêineres reefers que chega nos navios dos armadores não é suficiente para atender à demanda dos exportadores brasileiros.
Silvio Campos, presidente da Câmara Brasileira de Contêineres, Transporte Ferroviário e Multimodal (CBC), lembra que, como os navios com porão frigorificado não são mais construídos, houve uma migração “praticamente forçada” de toda a carga frigorificada para contêiner. Campos destaca que não são os contêineres reefer que faltam, mas sim navios. Um navio de seis mil TEUS tem tomadas para transportar, aproximadamente, dois mil contêineres reefers.
O presidente da Câmara acredita que se a profundidade dos portos brasileiros fosse maior, mais navios com capacidade acima de seis mil TEUS seriam atraídos, o que conseqüentemente aumentaria a capacidade de transporte de reefers.
Campos, no entanto, reconhece o esforço dos armadores para atender aos exportadores brasileiros: “O navio que leva o contêiner para fora é o mesmo que traz. A dificuldade é justamente o reposicionamento. Hoje, há armadores que estão colocando carga geral nos reefers, que são contêineres caros e delicados. Não é qualquer carga que pode viajar nos reefers”.
A Aliança Navegação e Logística, um dos braços da Hamburg Süd, confirmou em nota que, de fato, não há falta de contêineres no mercado, mas incompatibilidade no fluxo das cargas. “Em determinada época chegam mais contêineres de 20 pés na importação, mas o mercado demanda mais contêineres de 40 pés para exportar ou vice-versa”. Assim como, o presidente da CBC, a Aliança Navegação aponta a falta de infra-estrutu-ra nos portos como um fator complicador. A empresa afirma que há falta de espaço nos terminais para manusear contêineres vazios, além de constantes greves que comprometem o andamento da liberação dos contêineres e a operação navios.
Além dos problemas logísticos inerentes do transporte em porta-contêineres, há ainda, no Brasil, a dificuldade para o conserto dos reefers. O presidente da CBC lamenta que as peças que são usadas para os consertos não têm o mesmo tratamento aduaneiro dos contêineres, que têm livre entrada e utilização no território nacional. Com isso, para que os reparadores consigam uma determinada peça, precisam entrar com um processo de importação, o que atrasa a recolocação do contêiner no mercado.
A CBC entrou com um pedido na Receita Federal para que os reparadores tenham direito a uma área alfandegada específica para guardar peças. Campos acrescenta que o mercado de contêineres, dry e reefer, está altamente aquecido. Ele estima que a frota esteja com a ocupação próxima de 100%. No ano passado, foram transportados mundialmente mais 340 milhões de contêineres. No Brasil, o aumento da movimentação gira em torno de 7% ao ano. No mundo, 4,6 mil navios estão em operação transportando contêineres.
Entrevista concedida a Revista Portos e Navios.